Scolari tinha impacto. Pedia as bandeirinhas na janela, os cachecóis ao pescoço, foi capaz de colocar um país parado por causa do futebol. Trazia consigo um título mundial, conquistado pelo Brasil, e a fama de ser durão. Com ele, estava visto, não havia brincadeira. Chegou mesmo para pôr ordem na casa. Conseguiu, com polémica aqui e ali, defendendo os seus meninos por todos os meios, revolucionar a selecção portuguesa. Deu a Portugal um novo estatuto. Mas entrou, depois, numa fase decadente, verificada no Europeu de 2008, que culminou com a sua saída, desgastado. Encerrou um capítulo. Carlos Queiroz, o substituto, é diferente. Não vai nessas coisas de bandeiras, de promessas, de cartas para os jogadores. Acredita no que faz, trabalha no gabinete, analisa o futebol. É o professor. Frio e distante. Não mobiliza os adeptos. Fá-los, sem saber, temerem o pior.
Ser pessimista é uma característica portuguesa. Não é exclusiva nem generalizada. Mas, na maioria, afecta-nos. No que toca à participação portuguesa no Mundial 2010 não somos pessimistas. É bem mais do que isso. Somos uma espécie de profetas da desgraça, de quem espera o pior e se vai preparando para que não crie falsas esperanças e, pumba, seja mesmo abalado. Assim parece que ficamos um bocadinho mais imunes à eventual desilusão. Se fôssemos optimistas, crentes numa vitória na prova, seria, se a coisa corresse mal, o dobro da frustração. Parecia que iria ser bom e a queda faria estrondo. Neste olhar de pessimista vemos o futuro negro, sem sorrisos e sem glória. Se for contrariado, melhor. Se não for, paciência, mas já ficara o aviso. Queremos é que tudo corra bem. Depois damos o braço a torcer sem problema.
Todo este pessimismo é, no fundo, a vontade de ganhar a falar mais alto. Todas as selecções que estão no Mundial querem fazer melhor do que as outras. Para algumas, a própria presença já é uma vitória. Para Portugal não. Já não é assim. Mas, vá lá, também não podemos exigir o céu e a terra aos portugueses. Temos uma selecção capaz, recheada de bons jogadores, Ronaldo na liderança, provenientes dos melhores clubes europeus. Temos valor. Mas isso não significa que estejamos a correr sozinhos. Há concorrência, fortíssima, de grandes selecções mundiais. Portugal melhorou muito, nos tempos de Scolari, mas ainda falta. Na corrida com os grandes papões mundiais, já não sendo uma vítima indefesa e a jeito da malvadez, Portugal é um papãozinho. No máximo, não passa daí. Podemos fazer boa figura mas não peçam o título.
Esta é a quinta vez que Portugal marca presença num Campeonato do Mundo. Parece rotineiro pelos últimos anos, sim, mas é pouco em dezanove edições. As outras quatro participações portuguesas, espaçadas em quarenta anos, dividem-se em dois grupos. Diferentes, distantes, antagónicos. De um lado, no lado bom, estão as participações em Inglaterra e na Alemanha. A primeira, com os Magriços, que resultou num histórico terceiro lugar, à frente da União Soviética, numa selecção que encantou até ser travada pela Inglaterra, a anfitriã, futura campeã mundial. Na Alemanha, com Saltillo e Coreia pelo meio, dois capítulos negros de selecções nacionais atoladas em escandâlos e participações desastradas, Portugal voltou a recolocar-se no topo. Conseguiu o quarto lugar, depois de vice-campeã europeia. A partir de 2004 foi sempre a subir.
A participação no Mundial 2006 encheu-nos as medidas. Portugal conseguiu ser quarto, não igualou os Magriços mas esteve lá perto, um seguimento perfeito para o Europeu de 2004 e uma borracha que se passou sobre a participação na Ásia, no último Mundial. O quarto lugar foi uma vitória para os portugueses. Holanda e Inglaterra, por exemplo, caíram aos nossos pés. Nada, a partir daí, ficou igual. A fasquia elevou-se. Portugal passou a deter maior responsabilidade, deixou de ter apenas de confirmar a presença, passou a ser uma das selecções em foco para surpreender os adeptos de futebol mundial e para ser bem vista internacionalmente. Ganhou pujança e relevo. Mesmo não tendo ganho nada de concreto, fez por merecer a atenção. Os portugueses uniram-se sobre a selecção. Em casa, nos cafés e nas ruas.
Tenho cá para mim, leitor, que é a participação na Alemanha, brilhante, que nos faz olhar com tanta desconfiança para esta selecção actual de 2010. A partir desse quarto lugar passamos a querer sempre mais. É normal. Ninguém se contenta com pouco, o objectivo é sempre fazer melhor do que antes. Faz sentido pensar assim. Mas, creio, não se aplica neste caso. Portugal teve um caminho sinuoso, turbulento e conturbado para chegar ao Mundial da África do Sul. Não o conseguiu directamente, a Dinamarca superiorizou-se, e teve de utilizar uma via secundária, o playoff, para confirmar a presença na maior prova de selecções. Esteve, meses a fio, entre a espada e a parede. No limbo. Por essa altura, quando Portugal estava mal, os adeptos desligaram. Deixamos a festa. O tal pessimismo instalou-se: não iríamos ao Mundial. Parecia escrito.
Ser pessimista é uma característica portuguesa. Não é exclusiva nem generalizada. Mas, na maioria, afecta-nos. No que toca à participação portuguesa no Mundial 2010 não somos pessimistas. É bem mais do que isso. Somos uma espécie de profetas da desgraça, de quem espera o pior e se vai preparando para que não crie falsas esperanças e, pumba, seja mesmo abalado. Assim parece que ficamos um bocadinho mais imunes à eventual desilusão. Se fôssemos optimistas, crentes numa vitória na prova, seria, se a coisa corresse mal, o dobro da frustração. Parecia que iria ser bom e a queda faria estrondo. Neste olhar de pessimista vemos o futuro negro, sem sorrisos e sem glória. Se for contrariado, melhor. Se não for, paciência, mas já ficara o aviso. Queremos é que tudo corra bem. Depois damos o braço a torcer sem problema.
Todo este pessimismo é, no fundo, a vontade de ganhar a falar mais alto. Todas as selecções que estão no Mundial querem fazer melhor do que as outras. Para algumas, a própria presença já é uma vitória. Para Portugal não. Já não é assim. Mas, vá lá, também não podemos exigir o céu e a terra aos portugueses. Temos uma selecção capaz, recheada de bons jogadores, Ronaldo na liderança, provenientes dos melhores clubes europeus. Temos valor. Mas isso não significa que estejamos a correr sozinhos. Há concorrência, fortíssima, de grandes selecções mundiais. Portugal melhorou muito, nos tempos de Scolari, mas ainda falta. Na corrida com os grandes papões mundiais, já não sendo uma vítima indefesa e a jeito da malvadez, Portugal é um papãozinho. No máximo, não passa daí. Podemos fazer boa figura mas não peçam o título.
Esta é a quinta vez que Portugal marca presença num Campeonato do Mundo. Parece rotineiro pelos últimos anos, sim, mas é pouco em dezanove edições. As outras quatro participações portuguesas, espaçadas em quarenta anos, dividem-se em dois grupos. Diferentes, distantes, antagónicos. De um lado, no lado bom, estão as participações em Inglaterra e na Alemanha. A primeira, com os Magriços, que resultou num histórico terceiro lugar, à frente da União Soviética, numa selecção que encantou até ser travada pela Inglaterra, a anfitriã, futura campeã mundial. Na Alemanha, com Saltillo e Coreia pelo meio, dois capítulos negros de selecções nacionais atoladas em escandâlos e participações desastradas, Portugal voltou a recolocar-se no topo. Conseguiu o quarto lugar, depois de vice-campeã europeia. A partir de 2004 foi sempre a subir.
A participação no Mundial 2006 encheu-nos as medidas. Portugal conseguiu ser quarto, não igualou os Magriços mas esteve lá perto, um seguimento perfeito para o Europeu de 2004 e uma borracha que se passou sobre a participação na Ásia, no último Mundial. O quarto lugar foi uma vitória para os portugueses. Holanda e Inglaterra, por exemplo, caíram aos nossos pés. Nada, a partir daí, ficou igual. A fasquia elevou-se. Portugal passou a deter maior responsabilidade, deixou de ter apenas de confirmar a presença, passou a ser uma das selecções em foco para surpreender os adeptos de futebol mundial e para ser bem vista internacionalmente. Ganhou pujança e relevo. Mesmo não tendo ganho nada de concreto, fez por merecer a atenção. Os portugueses uniram-se sobre a selecção. Em casa, nos cafés e nas ruas.
Tenho cá para mim, leitor, que é a participação na Alemanha, brilhante, que nos faz olhar com tanta desconfiança para esta selecção actual de 2010. A partir desse quarto lugar passamos a querer sempre mais. É normal. Ninguém se contenta com pouco, o objectivo é sempre fazer melhor do que antes. Faz sentido pensar assim. Mas, creio, não se aplica neste caso. Portugal teve um caminho sinuoso, turbulento e conturbado para chegar ao Mundial da África do Sul. Não o conseguiu directamente, a Dinamarca superiorizou-se, e teve de utilizar uma via secundária, o playoff, para confirmar a presença na maior prova de selecções. Esteve, meses a fio, entre a espada e a parede. No limbo. Por essa altura, quando Portugal estava mal, os adeptos desligaram. Deixamos a festa. O tal pessimismo instalou-se: não iríamos ao Mundial. Parecia escrito.
Confesso que também cheguei a achar que não, quando dependemos de terceiros, tal era a complicação do caso. Mas conseguimos. A partir daí parece que tudo se esqueceu. Portugal ficou logo colocado nos favoritos à vitória final. Passamos de um extremo, de pessimismo total, para outro, colocando tudo em cor-de-rosa. Não o podemos fazer. Temos, nós adeptos, de encontrar um meio-termo, adequado, que reflicta o que a selecção tem realmente capacidade para conseguir. Pensemos a cada jogo. Sem exigir demasiado, sem exigir que ganhemos tudo, como se fosse somar dois mais dois. Só temos de pedir coragem, audácia e atitude. Deixemos o pessimismo e as utopias. É possível fazer bem mas, calma, saibamos ir devagar. Não se eleve demasiado a fasquia. E lembremo-nos sempre: Portugal não joga sozinho...
2 comentários:
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