O TROPEÇÃO DO SENHOR LÍDER
À sétima jornada, já com um total de onze jogos oficiais para trás, o FC Porto travou o seu ciclo de vitórias. Não perdeu, sim, mas o empate frente ao Vitória de Guimarães, pelas circunstâncias em que foi sofrido, tem um sabor amargo, quase como se de uma derrota se tratasse, já que viu travada a sua cavalgada plena de triunfos. Mantém a liderança destacada, tem uma situação privilegiada, só que perdeu dois pontos e, por isso, tem sete de vantagem... sobre o Benfica. O campeão, com três vitórias consecutivas, recuperou do início em falso, ascendeu ao segundo lugar e conseguiu retirar alguma expressão ao atraso para o FC Porto. Perspectiva-se, cada vez mais, um duelo. Sporting e Sp.Braga estão já a dez e nove pontos da liderança. É um fosso considerável.
Arma em riste, escudo elevado, vontade de combater e coragem para tomar o castelo rival. Ascendente conseguido, um tiro disparado pelo canhão de Hulk para premiar o melhor período azul, já depois de o Vitória ter desperdiçado uma oportunidade soberana para deixar o dragão em tremuras. O castelo abriu uma brecha mas não ruiu. Já dera provas de consistência, valor e força para reagir. Manuel Machado mudou a estratégia, enviou os sinais necessários, alertou a tropa para a necessidade de corrigir aspectos e melhorar o rendimento. Pelo facto de estar por cima, o FC Porto, com o passar do tempo, foi baixando a guarda: limpou as armas, contou as munições, diminuiu a intensidade com que se fizera à luta e confortou-se com o que conseguira. Saltou o joker para a frente de batalha: Faouzi. Disparou um tiro certeiro no porta-aviões azul. Acentuação do cenário bélico, picardias em catadupa, polémicas arbitrais. O FC Porto tropeçou.
Passe de Saviola, domínio precioso de Carlos Martins, troca de pés e potência no remate. Bola pára no fundo da baliza de Felipe. Marca o Benfica e carimba a vitória: esteve por cima, foi mais equipa, mais incisivo, estava mais pressionado para vencer e criou mais oportunidades. Ganha com justiça devido a tudo isso. O Sp.Braga teve os seus momentos, levou Roberto a emergir, cresceu no final da primeira parte, surgiu do descanso mais ousado e mais solto, deixando a indefinição inicial, conseguindo jogar mais tempo no território adversário. Os rivais anularam-se, respeitaram-se e tiveram cautelas múltiplas. O jogo decidiu-se no pontapé de Carlos Martins. É um diabo irreverente, inconformado, morde a língua, deixa que a raiva se liberte e foi quem mais lutou pelo golo. O Benfica mereceu-o, porque foi, no duelo entre campeão e vice, diferentes e menos consistentes em relação ao ano passado, quem mais tentou ser feliz. Está a melhorar.
Confirmado: o leão é bipolar. Tem duas caras, duas formas diferentes de jogar, varia consoante e exigência e a realidade em que está inserido. Sorri na Europa: exibição sólida, alegria a transbordar, cinco golos marcados ao Levski de Sófia. Poderia ser um embalo, um tónico, um empurrão para recuperar caminho no campeonato e diminuir o atraso de dez pontos para o topo. Só que, lá está, aparece o reverso da medalha: foi surpreendido pelo Beira-Mar, viu-se em desvantagem num erro colossal de Rui Patrício, teve que correr em busca do resultado, empatou por João Pereira, revelou-se pouco eficaz, esbarrou numa exibição portentosa do guarda-redes Rui Rego e cedeu dois pontos. O leão, grande e candidato, está, à sétima jornada, no décimo lugar, a uma dezena de pontos do FC Porto, ultrapassado por Benfica e Sp.Braga, contando apenas com três vitórias e partilhando a posição com o Vitória de Setúbal. É muito mau.
Vitória de Guimarães e Olhanense são dois dos principais destaques das sete primeiras jornadas do campeonato. Estão, por obra própria, no segundo lugar, à frente do Benfica, com doze pontos somados: os vimaranses, já se disse, travaram a marcha vitoriosa do FC Porto e os algarvios, em casa, bateram o pé ao Vitória de Setúbal (3-1). Destaque ainda para o quinto lugar da União de Leiria, que venceu, por 2-1, a Académica - as duas equipas, assim como o Sp.Braga, fixam-se nos onze pontos. Paços de Ferreira e Nacional regressaram às vitórias, chegando aos dez pontos, depois de vencerem, respectivamente, Naval (1-2) e Portimonense (3-1). No duelo entre últimos, equipas sem alegria, sem escassos golos marcados e sem vitórias, Rio Ave e Marítimo anularam-se, em Vila do Conde, num jogo que só poderia, por tudo aquilo que as envolve, terminar empatado: sem golos, com algumas oportunidades, em ritmo baixo.
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